Poesia, então

Para fechar minhas postagens de 2023, hoje apresento um trabalho que muito me encantou realizar.

Em 2017 fui convidado pela coordenadora do Unimúsica da UFRGS, Lígia Petrucci – com quem eu era e continuo casado –, para elaborar a criação visual da série daquele ano.

Desde que ela começou a conceber e produzir as atividades do projeto, há duas décadas, essa minha condição de cônjuge impediu que eu fosse escalado para participar das programações, apresentando meu trabalho musical – fato sobre o qual sempre estivemos de acordo por entender que nossa proximidade a impossibilitava de, muito embora desejasse, me convidar para participar do projeto como um artista atuando no palco.

Apesar disso, eu participei de diversas outras formas, auxiliando-a, aqui e ali, sobretudo nos bastidores. A única atividade que eu exercia na presença do público, ao microfone, era dando as boas-vindas nas aberturas de cada espetáculo e apresentando as atrações.

Porém, eis que em 2017 surgiu essa demanda – não remunerada – que dizia respeito a uma outra atividade minha, mais esporádica e menos conhecida, que é a de artista visual.

A série de 2017 não poderia ter um nome mais sugestivo e belo: poesia, então. Por possuir esse foco nas palavras, acabei desenvolvendo para a arte daquele ano, como num desdobramento, algo em que eu já vinha trabalhando, havia algum tempo.

Em 2011 eu idealizei e confeccionei uma série de azulejos para uma cadeira de cerâmica, do curso de Artes Visuais da UFRGS – para onde retornei, temporariamente, com o intuito de me ambientar novamente com a academia, antes de talvez tentar o mestrado. Esse trabalho se fundava, justamente, nas palavras. Já comentei sobre ele no blog. Para acessar o conteúdo, basta clicar aqui: www.dudusperb.com.br/1755-2/

Foi, portanto, partindo da mesma ideia daquele projeto das placas de cerâmica, em que sobreposições e espelhamentos de palavras deram origem a estampas únicas, que concebi as novas imagens para o Unimúsica. Para o cartaz principal, ao invés de apenas uma palavra, entretanto, dessa vez o objeto e ponto de partida era uma frase, ou seja, o próprio título da série.

Escolhi as cores – complementares – azul e laranja, mantendo no entorno das mandalas as molduras elaboradas a partir do mesmo texto. Depois, elaborei da mesma forma cada uma das imagens com os nomes de artistas participantes daquela edição.

Infelizmente, com a perda de arquivos de um HD, desapareceram os registros originais e perdi alguns nomes, só me restando as estampas que compartilho aqui.

A Lígia já passou a coordenação do Unimúsica para a Ana Laura Colombo de Freitas. Antes de se aposentar, porém, ela lançou, agora em dezembro, o livro Unimúsica 40 Anos, que conta uma boa parte da trajetória deste que é um dos mais ricos, importantes, felizes e emblemáticos projetos culturais realizados em uma universidade, em nosso país. Na edição, se pode apreciar diversas artes das séries. Para meu grande contentamento, minha criação também se encontra ali.

Agora que o ano finda e que se repensa com mais empenho a vida e também nossos projetos – ainda mais nesses tristíssimos tempos em que vivemos –, a poesia pode ser de grande significação. Não apenas por sua fruição, pelo encantamento que nos traz, mas também no sentido de nos permitir uma melhor percepção e reorientação daquilo em que acreditamos: o que praticamos ou apoiamos, o que pretendemos, o que entendemos sobre “estar aqui” e o que desejamos para nós e para as outras formas de vida neste nosso esplendoroso planeta que agora agoniza.

Se não possuímos uma resposta exata e pronta para tudo, poesia, então.

Me despeço de 2023 e das pessoas que aqui me acompanham, desejando, o quanto for possível, um novo ano verdadeiramente próspero para toda a Vida da Terra.

6 comentários em “Poesia, então”

  1. Que lindo trabalho , Dudu. Faz parte dos anos que não estivemos tão presentes na vida um do outro! Delicado e cheio de “Brasilidade”. Sou suspeita pois além de tudo: amo laranja com azul , e o Hilton não me deixa mentir, nossa casa ainda é, nesses tons !!!
    Bjkas

  2. Sempre tanta beleza! com tantas manifestações! Nao sei como expressar minha admiração e encantamento diante de tanta sinceridade tão lindamente exposta. GRATIDÃO DUDU, GRATIDÃO LÍGIA!

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