No atelier de Teresa Poester

Minha amizade com Teresa Poester, artista plástica e professora de rica e reconhecida trajetória, começou num tempo em que ambos éramos jovens, no começo dos anos 1980, quando nos conhecemos no Instituto de Artes da UFRGS onde estudávamos Artes Visuais – ela, se não me engano, já quase terminando o curso.

Houve entre nós uma daquelas empatias imediatas que primeiro se convertem num carinho mútuo e, depois, com a convivência, se transformam em amor. E lá se vão 40 anos dessa nossa afeição e relação intensa que nos trouxe tantos momentos preciosos e, felizmente, ainda traz.

Alguns deles, foram ocasiões em que estivemos juntos no seu atelier. Sempre generosa e interessada nos processos artísticos – sobretudo do desenho –, Teresa colocava o espaço e os materiais à disposição pra gente trabalhar.

Num desses encontros, minha filha Maria, que à época tinha em torno de seis anos, foi junto e nos deitamos a desenhar no chão, com papéis e lápis espalhados ao redor, mais alguns pincéis e água para os efeitos de diluição. Foi uma tarde deliciosa e produtiva.

Maria sempre desenhou lindamente, talento que perdura como possibilidade de expressão, mas que ela refreou um bocado – talvez por conta de terem em algum ponto se estabelecido comparações com o meu processo de elaboração do desenho (em curso há bastante mais tempo que o dela) que lhe tirassem um tanto de firmeza no seu próprio desenvolvimento –, algo recorrente em contextos familiares: aquela coisa das afinidades ou correspondências que por vezes ajudam e noutras atrapalham.

De qualquer modo, ela seguiu criando e se exprimindo por meio das letras, com seus escritos igualmente impressionantes e que resultaram num primeiro livro singular e surpreendente: Prelúdios, lançado há pouco – que, aliás, recomendo vivamente.  

Como dá pra perceber pelo desenho dela que reproduzo aqui, muito cedo seus dons já se evidenciavam. E não apenas em questões plásticas – tais como, entre outras, de harmonia, de um senso apurado no uso das cores, tonalidades, no arranjo do espaço, na estrutura da composição e de ritmo, assim como de uma boa dose de controle dos materiais, numa técnica incipiente e intuitiva, porém muito eficiente –, mas também naquilo que é o mais essencial: uma representação pictórica dinâmica, de notável imaginação, em interpretações peculiares, envolventes e sensíveis.

Aquela prática no espaço de produção da Teresa foi animada por momentos de espontaneidade e entusiasmo que só acontecem numa esfera de paz e sintonia, quando a alegria se une ao exercício da inventividade. 

E o que eu mais aprecio no meu desenho é justamente o fato dele ter conseguido captar um pouco desse clima de imersão e contentamento, no qual a Maria desenhava vibrante, estirada no solo, toda liberta no prazer da criação: instante fértil, belo e comovente de elaboração conjunta na vivência da arte e do amor.

desenho de Maria Petrucci

6 comentários em “No atelier de Teresa Poester”

  1. Marta Colombo de Freitas

    Que lindeza de texto, desenhos e sintonia entre vocês: pai e filha! Tu e a Liginha estão colhendo o que plantaram literalmente! Parabéns! Amei.

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