Natureza Morta ou Vida Parada

As naturezas mortas são um tema recorrente na história da arte, sobretudo a partir do final do séc. XVI. Embora esse tipo de representação date de muito antes – pois os antigos egípcios e gregos já o concebiam, apesar de seus propósitos mais ritualísticos –, os holandeses fizeram verdadeira escola com esse tipo de pintura. Não apenas flores, mas diversos outros objetos “mortos”, ou “parados”, como animais, pratos, vasos, taças, talheres, panos etc. O termo original em holandês, “stilleven”, indicava uma “vida parada”, sentido que se manteve em inglês, “still life”. Para nós, latinos, ao contrário da vida, insinuou-se o sentido da morte em sua denominação, como no francês “nature morte”.


Sejam mortas ou vivas – mas sempre paradas -, o fato é que elas se tornaram uma forma de arte, um gênero dentro da pintura.
Para mim, depois que comecei a me dedicar à música, as artes visuais ficaram um pouco pra trás e eu passei a desenhar e pintar bastante menos. Mas, nos meus tempos de estudante no Instituto de Artes da UFRGS, desenvolvíamos muito o desenho de observação e lembro de ter feito algumas naturezas mortas. A pintura a óleo que posto aqui – com o banco, o pano, o porongo, a canequinha, a planta e as frutas – realizei nessa época, logo no começo do curso, em 1982.

Mesmo sendo apenas um exercício de aula, não gostei do resultado, quando o terminei. Mas lembro que meu pai, quando viu, curtiu bastante, embora eu nunca tenha entendido por quê. Emoldurado e pendurado numa parede da sala na casa da minha mãe, hoje tenho mais simpatia por esse trabalho justamente por causa daquilo que antes me desagradava nele que é, sobretudo, esse seu ar incongruente e meio etéreo, com as luzes e reflexos dispersos e as coisas que parecem flutuar. Isso, somado ao efeito do contraste de cores e tonalidades e do tratamento pictórico: a intensidade do vermelho da caneca e do azul claro do pano, em choque com o azul e o marrom mais sombrios e compactos ao fundo, zona que se contrapõe ao restante bem iluminado e detalhado, em tons pastéis.

Já o desenho do vaso de flores em técnica mista, de 1994 – portanto realizado doze anos depois –, me apraz bastante mais, tanto pela composição, o traçado vivo e o jogo das cores, como pela sombra – à la Edvard Munch – que assinala e dramatiza levemente a cena tão prosaica. Esse, igualmente, orna a sala de dona Lilien.

16 comentários em “Natureza Morta ou Vida Parada”

  1. Achei os dois lindos, cada um com sua técnica e no seu momento. És um artista!
    👩‍🎨 👏👏👏👏👏

  2. GLENIO VIANNA BOHRER

    Muito legal Dudu!! Trabalho bonito com a energia da criação que está em todos os teus traços! Abraço!!

  3. Isabela Damilano Vieira

    Sempre achei que pintar Natureza ” Morta” é um talento especial. Pra mim, trata-se de ludibriar o ócio da tela em um momento de nostalgia….Amo, infelismente nao tenho esse dom. Gosto muito com aquarelas.

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