Da Maior Importância

Há 35 anos, em 28 de janeiro de 1988, estreei meu primeiro show. Para esse début, decidi interpretar canções de Caetano Veloso, compositor que sempre me encantou e é uma de minhas maiores referências. E escolhi como título “Da maior importância”, nome de uma das obras presentes no repertório. 

Nessa noite, no Vermelho 23, em Porto Alegre, assumindo um compromisso como cantor e instrumentista, me deparei pela primeira vez com uma plateia de pagantes. Essa performance simbolizava também o meu lançamento como intérprete da canção no ambiente da música de minha cidade.

Adriana Arioli, amiga querida, foi quem dividiu a tarefa de produção comigo. Nossas trocas se deram em diversos planos, em tudo o que se relacionasse com a preparação do show. Ambos oriundos das artes visuais, produzimos também juntos, na técnica de serigrafia, a arte do cartaz e do convite. Outra amiga, Gilda Santos, fez a divulgação e tivemos a felicidade de ver chamadas para o show estampadas em alguns suplementos culturais de jornais e até mesmo na televisão.

E mais gente amiga nos ajudou. Foi um trabalho de equipe que obteve excelentes resultados, sobretudo para quem estava começando, com escassos recursos financeiros.

Além de constatar que havia um público disposto a me ouvir — já ali naquele “momento inaugural” —, conseguimos encher a casa em pleno final de janeiro, quando a cidade ficava sensivelmente mais vazia (pra se ter uma ideia, o espetáculo “Tangos e Tragédias”, que acabou consagrando temporadas estivais, tinha inaugurado suas sessões “januárias” apenas no verão anterior).  

Por isso, e por vários outros motivos, esse show significou para mim um passo fundamental. A partir dele, não parei mais de realizar projetos, de penetrar e investir no complexo universo da música. E, embora o texto de divulgação em ZH já faça menção às minhas próprias composições, o que aconteceu foi que, desde então, passei mais de trinta anos imerso no caudaloso e intenso processo da interpretação.

Nesse tempo — e ainda agora, depois de finalmente ter lançado o primeiro disco com minhas canções —, o que mais me animou, definiu e orientou foi essa dinâmica da “representação” na canção. Foram as sutis, desafiadoras e infindáveis possibilidades de atuação da voz cantada na esfera dos sentidos. Com o tempo, percebi melhor a importância e o desafio que isso comportava. Sobretudo, por ser a expressão artística de uma categoria um tanto rara dentro da cadeia produtiva da música, a do “intérprete masculino”.

Esse desejo de reinventar o mundo que a arte suscita na gente, no meu caso, começou há muito tempo, na mais tenra infância. É algo que, mesmo que se queira, jamais se consegue afastar. E, se não existe uma data específica que determine quando se passou a amar ou experimentar essas coisas, o que posso dizer sobre esse show, especificamente, é que ele representou um marco novo e fundamental na minha trajetória de vida: meu arremesso irrevogável no universo da criação musical — algo que foi e continua sendo da maior importância.

Imagens: cartaz do show, convite, programa, as matérias de ZH e do Diário do Sul e algumas fotos da estreia. A última, em P&B, foi tirada no 20 Ver Bar, em Estrela (RS), onde me apresentei logo após a estreia em Porto Alegre.

jornal Zero Hora
jornal Diário do Sul
comigo, Gilda e Adri
Adri, Beatriz Horn, Fernanda e meu irmão
Tâmara, Clode, Vitor e Salzano

18 comentários em “Da Maior Importância”

  1. Parabéns Dudu.
    35 anos não é pouca coisa!!!
    E sempre esse bom gosto no repertório.
    Quer dizer que já no início você tocava violão… o que me parece está retornando agora….
    Vida longa nessa carreira.!!!!!

    1. Miroca querida, obrigadíssimo! 🌸🌿 Pois é, nessa época tocava bastante violão. Mas era também mais “cara dura”, ahahahah. Era mais jovem e era um começo. Agora é mais difícil pra mim, tocar. Mas, aqui e ali, pode rolar, sobretudo pra interpretar minhas próprias canções. ❤️😘

  2. Querido, quanta Arte em tua vida! Tão plural na tua expressão e na entrega da BELEZA que acessas. Encontras o que merece respeito e com disciplina compartilhas o melhor que podes. Que conserves este cuidado primoroso! Abraços

  3. Márcia Londero

    Que super, Dudu, 1988 foi um ano importante, lindo te ver no início da carreira, marcou uma época. E a Beatriz Horn, que amor. Parabéns querido.

    1. Valeu, Márcia! Gracias! 💜 Sim, muita saudade da Beatriz… Aprontamos muito juntos 😉🌿🌸 bjks!

  4. Q delicia de lembrança. Te ver jovenzito, rever gilda, bea, zezé, salzano! Trajetória impecável Dudu ❤️💎✨

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