Ausência estrelas

A ausência das Estrelas

Quando criança, até a adolescência, eu passava as férias de verão em Tramandaí, cidade litorânea do RS na qual meu avô paterno possuía um hotel e um cinema. Nos fundos deles, dentre outras coisas, haviam duas casas. Numa, ficavam minha avó e meu avô, noutra, nosso pequeno núcleo familiar: meus pais, meu irmão e eu.

Durante três meses, período que costumava durar o veraneio, compartilhávamos desse ambiente que contava ainda com um imenso gramado no qual, nas noites de verão, costumávamos nos deitar para perscrutar o céu estrelado. Naquela época, apesar de estarmos na zona mais central da cidade, a luminosidade que ela projetava era pouca e, por isso, as noites eram escuras. Assim, era possível vislumbrar a ampla abóbada celeste com sua infinidade de astros, enxergar com clareza a Via-Láctea e as luzes de milhares de outras estrelas, das mais brilhantes às mais baças: tudo era visível a olho nu com uma clareza e uma vivacidade impressionantes. E havia silêncio.

Lembro que, como resultado da intensa contemplação, colados no chão fofo da relva, chegava um momento em que passávamos a ter uma impressão de profundidade na visão daquele céu, como se conseguíssemos distinguir em alguma medida as diferentes “camadas” das zonas estelares. Ainda sob o efeito daquela imersão — tomados por uma indescritível sensação de encantamento, emoção e completamente embriagados por essa viagem na imensidão —, a partir de um certo ponto sentíamos o corpo como que não mais pertencendo apenas a nós mesmos, mas sim parte de algo maior: provavelmente de toda aquela imensidão. Ainda hoje trago comigo a memória viva dessas noites estreladas e sua sensação.

Só muito tempo depois, quando fui trabalhar num planetário, pude divisar um “céu” que evocasse minimamente aqueles dos verões da minha infância, embora sem a mesma amplitude e efeitos. 

Com o tempo, cada vez mais as luzes das cidades têm tomado os espaços, desfazendo a escuridão e atrapalhando nosso sono e o dos animais que nelas habitam, alterando o relógio biológico das plantas e prejudicando seus ciclos de crescimento e suas defesas contra pragas e doenças.

Cada vez mais perdemos a maravilha das estrelas. Cada vez mais perdemos o sono e o sonho. Perdemos a contemplação de um céu que nos trazia — com uma clareza impressionante! — a sua infinitude e, portanto, nos permitia encarar com maior nitidez a nossa finitude e as nossas limitações, importantes medidas para que possamos sentir e compreender melhor quem somos e a essência do viver.

Trocamos a luminosidade essencial e viva da natureza pelo brilho excessivo das luzes artificiais que, ao invés de aclarar, ofuscam nossa visão e nos esvaziam os sentidos.

As fotos mostram o céu da madrugada de Porto Alegre, nesse mês de junho de 2022, tomado pela luminescência dos enormes, estéreis e desorientadores painéis de publicidade.

13 comentários em “A ausência das Estrelas”

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